terça-feira, 6 de abril de 2010

Somos muito parecidos com os nossos avós

Entrevista para o jornal Destak:

Falem-me um pouco do vosso percurso de 2006 até agora.

Começámos ao contrário do que seria suposto. Primeiro nasceu um disco e este é que deu origem à banda. Chamou-se “Homemade Blues” ao disco, por ter sido gravado em casa, calmamente e aos Domingos, ao longo de um ano, e “The Soaked Lamb” à banda, como homenagem aos almoços de ensopado de borrego que se faziam nesses dias de gravações. Depois desse disco editado, foi necessário tocá-lo ao vivo. Foi assim que os primeiros ensaios surgiram, bem como os concertos um pouco por todo o País. Este segundo registo “Hats & Chairs”, que editamos agora, é fruto desses ensaios, desses concertos, e da convivência enquanto banda. Foi gravado em estúdio, apesar de também ser “homemade” no sentido em que foi todo feito por nós. É composto só de originais, ao contrário do primeiro, em que metade dos temas eram versões. E tem mais instrumentos. Muito mais instrumentos. As gravações tiveram a mesma lentidão que as anteriores, mas sem o ensopado de borrego para o almoço. Perdeu-se na qualidade das refeições, mas ganhou-se em qualidade de som.

O vosso som parece mesmo enraizado em referências antigas, podem referir algumas?

As raízes são realmente antigas, e vão tão fundo quanto as décadas de 20 e 30 do século passado. Mas alguns ramos mais afoitos, e até algumas folhas, são quase verdes. A música que nos interessa mais, a que ouvimos em casa, é aquela feita no período anterior à década de cinquenta e da massificação da indústria musical. Em que a forma de composição dos blues é um pouco mais complexa, pensada em função da canção como um todo e não dos executantes ou solistas. Mas também não recusamos o que se passou depois disso, e pomos na nossa música muita coisa posterior a essa época. As nossas influências são muitas, variadas, e algumas ainda nem sequer ganharam muito pó.

Há também algo de Tom Waits e Nick Cave na forma do Afonso cantar, não é?

Julgamos que os dois só tocam sentados, quando estão ao piano. E quase nunca os vemos de chapéu. Também desconhecemos se algum dos dois se importa com a comparação. A nós, não nos incomoda nada. Gostamos muito do Tom Waits e, nesse sentido, vemos o paralelismo como um grande elogio. A verdade é que o Afonso não tenta imitar ninguém. A forma como canta é apenas o registo em que se sente mais confortável. E ele nem sequer é a voz principal da banda. Essa é feminina e é da Mariana Lima. Ele só canta em 2 temas do novo disco, num total de 13.

Há uma arte em fazer musica moderna a soar a antiga?

A música foi gravada com material novo, e com as melhores condições de captação a que tivemos acesso. Nesse sentido, não somos nada revivalistas ou puristas. Não queremos gravar as nossas músicas como eram gravadas há setenta ou oitenta anos. A melhor qualidade de som disponível é a que nos interessa. E essa é mesmo a parte mais moderna na nossa música. Se falarmos na parte da composição, aí já existe uma preocupação grande em fazer uma melodia que perdure no tempo e não uma canção para vender e chegar aos tops. E nesse aspecto, não somos mesmo nada modernos, e somos muito mais parecidos com os nossos avós.

Qual o papel dos chapéus nos Soaked Lamb?

Têm um papel fundamental, não deixando fugir as ideias nem os cabelos. Mas são tão importantes quanto as cadeiras. Nós gostamos de detalhes e damos muita atenção a todos os pormenores. Na música, no grafismo dos discos e cartazes, nas roupas que usamos em palco. Os chapéus e as cadeiras fazem parte dessa preocupação estética, que começa na composição da música e não acaba mais.

São todos multi-instrumentistas, ao vivo trocam de instrumentos?

Os multi-instrumentistas são apenas dois. O Afonso e o Tiago. Entre os dois, tocam mais de 10 instrumentos (Guitarra, Banjo, Ukulele, Harmónica, Trompete, Saxofone, Clarinete, Lap Steel Guitar, Concertina, etc.). Mas não os trocam. Pelo menos ao vivo. Apesar de uma vez já terem trocado de chapéu.

Falem-me das colaborações e de como surgiram?

Os convidados aparecem em alguns temas do disco. São amigos que admiramos também como músicos, e que conseguimos enganar sem eles darem por isso. Enfiámos-lhes um chapéu. As músicas em que participam, ganharam uma dimensão que não tinham só com os 6 membros da banda. Os temas não seriam muito diferentes sem eles, é certo. Mas seriam com certeza mais pobres. São eles: Nuno Reis (Funk Off And Fly; Mercado Negro; Cool Hipnoise), Pedro Gonçalves e Tó Trips (Dead Combo), Jorge Fortunato (49 Special). O disco foi ainda misturado e masterizado por Branko Neskov.

Com o disco lançado, a digressão que o suporta será extensa? Que datas têm marcadas?

A digressão irá de norte a sul do País. Teve inicio no dia 31 de Março e já fizemos 4 concertos. Serão 17 concertos no total. Os eventos mais importantes serão: Coimbra (Salão Brasil) no dia 10; Porto (Armazém do Chá) no dia 16; Guimarães (C.C.Vila Flor) no dia 17; Loulé (Bafo de Baco) no dia 24; e para terminar, vamos tocar no Musicbox, em Lisboa, no dia 30 de Abril. Estamos a organizar uma pequena digressão pela Europa, mas será mais para o Verão.

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