segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Howlin' Wolf

Howlin' Wolf, cujo verdadeiro nome era Chester Burnett, tinha quase dois metros, pesava perto de dezasseis toneladas – para ser preciso, cerca de 140 quilos em jejum – e, disse alguém, tinha voz de maquinaria pesada. Com aquela voz era perfeitamente possível lavrar os inúmeros hectares do meu terreno (três, para ser exacto) em menos de uma manhã. Já pensei em virar para lá a aparelhagem, para ver o que acontece, mas tenho medo de derrubar as oliveiras.
Howlin' Wolf nasceu em White Station, Mississippi, e aprendeu a tocar harmónica com Sonny Boy Williamson II (não vou falar deste bluesman para não me emocionar demais). A mãe deserdou-o por um motivo tão banal no mundo dos blues que me custa escrevê-lo: por tocar a música do Diabo. E assim, aos treze anos, Chester Burnett viu-se obrigado a fugir de casa. Esta história poderia ter resultado na criação de um país na cauda da Europa mas, felizmente, acabou bem, com discos gravados e tudo.
Howlin' Wolf tinha preferência por fatos pretos que ficavam lindamente com a gravidade da voz. Este pequeno maneirismo do seu carácter devia-se a, um dia, ter visto uma imagem de Blind Lemon Jefferson assim vestido. O fato era preto porque, nessa altura, as fotografias reproduziam fielmente o mundo a preto e branco daquelas pessoas.
Dizem que Howlin' Wolf morreu – como se eu não o tivesse visto o mês passado na paragem do 28 para Moscavide – em 1976. Foi Howlin' Wolf que, juntamente com Blind Willie Johnson, inventou a voz do Tom Waits. Nunca vi ninguém dar-lhe o crédito por isso.



No video acima, o leitor atento terá reparado que o contrabaixista se semelha, com exactidão metafísica, a Willie Dixon. O motivo de tal prodígio é que é mesmo Willie Dixon (haveremos, num futuro próximo, de falar deste boxeur). Por agora, ouça Blind Willie Johnson:

2 comentários:

ggundas disse...

Já tinha marcado por aqui algures este blog mas o primeiro parágrafo desta mensagem relembrou-me a razão pela qual tenho de vir cá com frequência e atenção. Muito bom.
e vocês continuam a ser a banda que gostaria que tocasse no meu funeral.

18 de agosto de 2009 às 18:26
Afonso Cruz disse...

Obrigado, ggundas.
Um abraço!

19 de agosto de 2009 às 00:56